quarta-feira, 6 de julho de 2011

Caso do avião

Numa entrevista para o Programa Pinga Fogo, no ano de 1971, o médium Chico Xavier conta o Caso do Avião, tem uma cena no filme dele que ilustra essa história. É até bom ver isso, porque serve pra gente como lição de moral; ninguém é perfeito - espero que gostem ♥ 

 

Surra de Bíblia

 Eu ri muitoooooooo quando vi isso no filme do Chico Xavier. Aconselho que assistam também, pois é muito bonito! ♥

"Lutando no tratamento de 4 irmãs obsidiadas, José e Chico Xavier gastaram alguns meses até que surgisse a cura completa. No princípio, porém, da tarefa assistencial houve uma noite em que José foi obrigado a viajar em serviço da sua profissão de seleiro. Mudara-se para Pedro Leopoldo um homem bom e rústico, de nome Manuel, que o povo dizia muito experimentado em doutrinar espíritos das trevas. O irmão do Chico não hesitou e resolveu visitá-lo, pedindo cooperação. Necessitava ausentar-se, mas o socorro às doentes não deveria ser interrompido. "Seu" Manoel aceitou o convite e, na hora aprazada, compareceu ao "Centro Espírita Luiz Gonzaga", com uma Bíblia antiga sob o braço direito. A sessão começou eficiente e pacífica. Como de outras vezes, depois das preces e instruções de abertura, o Chico seria o médium para a doutrinação dos obsessores. Um dos espíritos amigos incorporou-se, por intermédio dele, fornecendo a precisa orientação e disse ao "seu" Manuel entre outras coisas: - Meu amigo, quando o perseguidor infeliz apossar-se do médium, aplique o Evangelho com veemência. - Pois não, - respondeu o diretor muito calmo, - a vossa ordem será obedecida. E quando a primeira das entidades perturbadas assenhoreou o aparelho mediúnico, exigindo assistência evangelizante, "seu" Manuel tomou a Bíblia de grande formato e bateu, com ela, muitas vezes, sobre o crânio do Chico, exclamando, irritadiço: - Tome Evangelho! Tome Evangelho!... O obsessor, sob a influência de benfeitores espirituais da casa, afastou-se, de imediato, e a sessão foi encerrada. Mas o Chico sofreu intensa torção no pescoço e esteve seis dias de cama para curar o torcicolo doloroso. E, ainda hoje, ele afirma satisfeito que será talvez das poucas pessoas do mundo que terão tomado "uma surra de Bíblia"...


Texto retirado do site: http://www.usesjrp.org/informativos/chico.php?indl=todos#noreg

Cachorrinha Boneca

Essa é uma história muito bonitinha que encontrei enquanto fuçava na internet. Eu tenho um cachorro chamado Loki e ele parece até gente de tanto que gosta de mim. Se eu chego em casa e não dou um afago na sua cabeça, pronto, ele fica enlouquecido e só se acalma a hr que faço carinho nele. Por isso me identifiquei com essa história. Espero que gostem ♥




        
Chico Xavier tinha uma cachorra de nome Boneca, que sempre esperava por ele, fazendo grande festa ao avistá-lo. Pulava em seu colo, lambia-lhe o rosto como se o beijasse. O Chico então dizia: - Ah Boneca, estou com muitas pulgas !!!! Imediatamente ela começava a coçar o peito dele com o focinho. Boneca morreu velha e doente. Chico sentiu muito a sua partida. Envolveu-a no mais belo xale que ganhara e a enterrou no fundo do quintal, não sem antes derramar muitas lágrimas. Um casal de amigos, que a tudo assistiu, na primeira visita de Chico a São Paulo, ofertou-lhe uma cachorrinha idêntica à sua saudosa Boneca. A filhotinha, muito nova ainda, estava envolta num cobertor, e os presentes a pegavam no colo, sem contudo desalinhá-la de sua manta. A cachorrinha recebia afagos de cada um. A conversa corria quando Chico entrou na sala e alguém colocou em seus braços a pequena cachorra. Ela, sentindo-se no colo de Chico, começou a se agitar e a lambê-lo. - Ah Boneca, estou cheio de pulgas !!!, disse Chico. A filhotinha começou então a caçar-lhe as pulgas e parte dos presentes, que conheceram a Boneca, exclamaram: - Chico, a Boneca está aqui, é a Boneca, Chico !!! Emocionados perguntamos como isso poderia acontecer. O Chico respondeu: - Quando nós amamos o nosso animal e dedicamos a ele sentimentos sinceros, ao partir,os espíritos amigos o trazem de volta para que não sintamos sua falta. É, Boneca está aqui, sim,e ela está ensinando a esta filhota os hábitos que me eram agradáveis. Nós, seres humanos, estamos na natureza para auxiliar o progresso dos animais, na mesma proporção que os anjos estão para nos auxiliar. Portanto, quem chuta ou maltrata um animal é alguém que ainda não aprendeu a amar.



Texto retirado do site: http://www.usesjrp.org/informativos/chico.php#noreg

terça-feira, 5 de julho de 2011

Refletindo...



 Estava conversando esses dias com um colega muito querido a respeito de mitologia, da sua criação e de seu uso. A mitologia, os mitos e as lendas foram criados por nossos antepassados para suprir as falhas da ciência. Alguns mitos e histórias publicadas aqui, como a Pisadeira no folclore brasileiro, são soluções palpáveis para aquela época. “Como explica a estranha dor de barriga que você sente quando vai dormir após uma refeição? Ah! Foi a Pisadeira! Ela veio por causa da minha barriga cheia!”. De certa forma, há uma lógica nisso, a causa primária é a barriga cheia, por isso veio a dor (ou a Pisadeira).
            Seguindo essa lógica, muito dos mitos, lendas e contos tem uma lógica real. Porém há contos e mitos que realmente desafiam a gente a crer que existe um fundo real. A questão que mais me intriga na verdade, é a questão da existência do bem e do mal.
            Não consigo crer na maldade pura, crer que exista um ser que é somente mal. Logo não creio no Demônio.
 Pensem comigo: 

1.      Deus em sua infinita sabedoria e perfeição não cometeria o erro de criar algo poderoso o suficiente para intervir em seus planos e ignorante a ponto de se rebelar contra ele. Deus é um ser perfeito e o erro é característica humana, não divina. 
2.      A maldade é a ausência da bondade; é a ausência plena de amor e caridade; é a ignorância em sua forma bruta; a ignorância é a falta de conhecimento. Deus ama todas suas criaturas, logo, não existe nenhuma criatura que desconheça seu amor, pois está gravado em seu inconsciente. Sendo assim, não existe a maldade plena e por fim, não existe criatura que seja totalmente má. 
3.      A maldade dos atos é apenas a falta de conhecimento das consequências que isso nos causa. A maldade fere a alma e transfigura sua essência, ferindo e maltratando apenas aquele que pratica e que deixa praticar.

Bem, essa é minha visão sobre o assunto. São alguns argumentos que me levam a crer isso. Gostaria que postassem sua opinião e sugestão para os próximos temas abordados.
     
 


Obrigada pela atenção. ♥




Por que a Terra não será destruída em 2012

Encontrei esse texto em um site e achei muito interessante. Espero que gostem.



Escrito por:
Gerson Simões Monteiro

O filme 2012 – O dia do juízo final produzido em 2008 nos Estados Unidos, é na verdade mais uma tentativa de se criar uma onda de terrorismo psicológico através do suposto fim do mundo. Nessa onda, exploram-se sem fundamento as profecias relativas às transformações pelas quais a Terra está passando para ingressar em uma Nova Era.
Segundo um amigo, os produtores desse filme usaram as profecias Maias tentando "cristianizá-las", mas esqueceram-se de que, quando tais profecias foram concebidas, aquele povo nem tinha ouvido falar de Jesus, muito menos pensava em acreditar em um único Deus. Como o ano 2000 já se foi, e não se pode mais explorar a falsa profecia da Bíblia – "de mil passarás, de dois mil não passarás" – agora surge um filme que procura reativar o tema catastrófico, embora não haja nenhuma citação a respeito nem no Velho nem no Novo Testamento.

A escolha da data
Na verdade, a nova data para o mundo acabar, o dia 21 de dezembro de 2012, é apenas uma jogada de marketing para o lançamento do referido filme. Ela foi estabelecida no calendário Maia, um calendário que principia a contagem do tempo em 11 de agosto do ano 3114 a.C., ou seja, antes mesmo das datações arqueológicas dessa misteriosa civilização. De acordo com aquelas datações, os Maias floresceram entre 1800 a.C. e 1450 d.C., em um vasto território que inclui regiões das Américas Central e do Sul, onde as ruínas de suas cidades e pirâmides monumentais resistem ao tempo.
Os Maias são reconhecidos por seu avançado conhecimento de astronomia e pela precisão de seus diferentes calendários, como o calendário anual solar, com 365 dias, chamado Haab. Outro desses calendários, o de "longa contagem", foi desenvolvido para computar extensos períodos de tempo ou ciclos, de 5.125 anos. Foi com base nesse calendário de longos ciclos que se estabeleceu a tradição da profecia Maia do fim dos tempos.
Ora, as profecias Maias, pelo visto, estão de acordo também com o que ensina a Doutrina Espírita a respeito não do fim físico do nosso planeta, mas do surgimento de uma Nova Era, quando a Terra passará, na escala dos mundos habitados, de Mundo de Expiações e Provas (segunda categoria), para Mundo de Regeneração (terceira categoria).



Já estamos em 2014
Porém, precisamos considerar que já estamos no ano 2014, de acordo com a revelação mediúnica transmitida por Chico Xavier, em 1937, posteriormente ratificada através de conceituados cientistas e teólogos, que se basearam nos estudos e pesquisas históricas relacionados a seguir:
1º) Quando Jesus nasceu numa obscura colônia do Império Romano, a Palestina, uma estreita faixa de terra no fundo do Mediterrâneo, o imperador romano era César Otávio Augusto. No mundo de César, os anos eram contados pelo calendário romano. Assim, o ano 01 era o da fundação de Roma.
Os anos seguintes eram assinalados com a abreviatura A. U. C., da expressão "Ab Urbe Condita" (Desde a Fundação de Roma). Somente no século VI, bem depois de Constantino (com o Edito de Milão no ano 313) conceder a liberdade de culto aos cristãos, é que foi estabelecido o calendário cristão. Foi então que, no ano 525, o monge Dionísio, o Pequeno, procurou estabelecer o ano da Era Cristã, em relação ao calendário romano "Ab Urbe Condita". E, por seus cálculos, fixou o ano da fundação de Roma como sendo 754 antes de Cristo.
Contudo, a revelação feita pelo Espírito Humberto de Campos, em 1935, por intermédio da psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capítulo 15 do livro Crônicas de Além-Túmulo, editado pela FEB em 1937, registra o erro histórico cometido por aquele monge católico e sua devida correção, ao relatar o seguinte diálogo, travado no mundo espiritual, entre o Cristo e seu discípulo João, o Evangelista:
– João – disse-lhe o Mestre –, lembras-te do meu aparecimento na Terra? – Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de Frei Dionísio, que, calculando no século VI da era cristã, colocou erradamente o vosso natalício em 754.
2º) É importante frisar que a revelação, trazida por intermédio de Chico Xavier, foi confirmada posteriormente pelo historiador e professor de História Antiga no New College, de Oxford, Robin Lane Fox, que em seu livro Bíblia – Verdade e Ficção, lançado em 1993, confirma esse erro de cálculo da data de nascimento de Jesus, calcado em vários documentos da época e nos fatos narrados pelos evangelistas, fatos esses postos em aparente contradição na perspectiva fundamentada no calendário romano.
3º) Esse mesmo pensamento é defendido pelo professor Charles Perrot, do Instituto Católico de Paris, em entrevista à revista Le Point:
[...] segundo um amplo consenso de exegetas, o ano de nascimento de Jesus deveria situar-se um pouco antes da morte de Herodes, O Grande. Ora, segundo os dados numismáticos, astronômicos e, sobretudo textuais, Herodes deve ter morrido no dia 11 de abril do ano 4 a.C. [...] O nascimento de Jesus terá sido provavelmente entre os anos 6 e 7 a.C. [...].
4º) Também o professor e padre John P. Meier, que leciona o Novo Testamento na Universidade Católica da América, em Washington, escreveu no The New York Times, no dia 21 de dezembro de 1986, que Cristo deve ter nascido por volta de 6 a 4 a.C.;
5º) Em nosso país, o astrônomo Ronaldo Rogério Mourão de Freitas, do Observatório Nacional, divulgou no Jornal do Brasil de 4/1/1982 que Frei Dionísio, o Pequeno, em 525, encarregado pelo Papa de organizar o calendário cristão a partir da vinda de Jesus à Terra, arbitrou o ano de 754 da Era Romana para o seu nascimento. Mas, pelas pesquisas realizadas sobre o assunto, ele chegou à conclusão de que o aparecimento do Cristo em nosso mundo se deu no ano 749 da fundação de Roma.

A Nova Era
Ora, diante de todas essas evidências, podemos concluir, sem margem de dúvida, que o ano 2012 já passou, ou seja, já estamos em pleno 2014 e a Terra não foi destruída, conforme a previsão divulgada de que o mundo acabaria no dia 21 de dezembro de 2012.
Convém ainda esclarecer que o termo "fim", empregado nas palavras proféticas de Jesus – "Quando o Evangelho for pregado em toda a Terra, é então que chegará o fim" (Mateus, 24:14) – está relacionado com a ideia de tempo e não com a de espaço, exatamente a mesma ideia do calendário de longos ciclos dos Maias. Portanto, Jesus se referiu ao fim de uma Era, não ao fim do mundo físico. E isto é lógico, pois quando as criaturas humanas estiverem evangelizadas haverá o fim da violência, das lutas fratricidas, do narcotráfico, das balas perdidas, das seleções étnicas e de todo o mal que ainda perdura no coração do homem.
E convenhamos: seria racional Deus acabar com o nosso planeta, quando as criaturas humanas estivessem vivendo plenamente a mensagem do Evangelho? E se Deus é a Justiça Suprema, a destruição do mundo seria então o prêmio prometido por Jesus aos mansos e pacíficos, que ao longo dos séculos se esforçaram para implantar na Terra o seu reino de amor e de paz? É claro que não! Deus é Justo!




Achei muito interessante esse texto, pois além de quebrar um taboo do fim do mundo em 2012, revela que já vivemos mais tempo do que imaginamos.
            Logo publicarei alguns textos doutrinários do Espiritismo que os farão refletir sobre muita coisa. Lembrando sempre que meu intuito não é converter ninguém ao espiritismo, mas mostrar que o mundo é muito mais do que se é possível ver.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A batalha de Ragnarok

Agora para fechar com chave de ouro, nada melhor que a história final da Mitologia Nórdica, a grande batalha!

Fenris e Odin

Aquele inverno tinha sido o mais gelado de quantos os deuses podiam ter lembrança. Para começar, não fora um só, mas três invernos encadeados. A neve caíra sem cessar dia e noite, com flocos imensos, congelando rios e mares. Mas, quando a terceira estação de frio consecutivo se anunciou, os deuses em Asgard começaram verdadeiramente a se preocupar.
- Já vamos para o terceiro inverno, Odin...! - disse-lhe Frigga, sua esposa, toda recoberta por peles. - Isto não é normal! - Sua voz traía um terror inconfesso, embora sua alma ainda relutasse em admitir que aquele pudesse ser o primeiro e temido prenuncio de Ragnarok, o Crepúsculo dos Deuses.
- É um inverno excepcionalmente frio, apenas isto; coloque mais roupas e trate de sossegar - disse o velho deus, com o cenho carregado.
Odin na verdade passara a vida toda se preparando para este pavoroso dia; não por acaso mandara construir o majestoso Valhalla, o palácio onde abrigava o exército de seus melhores combatentes mortos trazidos dos campos de batalha pelas valquírias, suas filhas guerreiras. Mas, nem por isto, a palavra fatal fora pronunciada, lá ou em Asgard, uma única vez, a não ser por alusões ou eufemismos, pois todos sabiam que aquela guerra seria a ruína não só dos deuses, como do mundo todo.
O terceiro inverno prosseguiu cada vez mais frio e apavorante. Mas isto mio era tudo: rumores de uma guerra iminente surgiam a todo instante, ou então, do guerras que já estavam em pleno andamento. Guerras de homens contra gigantes, de anões contra elfos, de homens contra homens, de todos contra todos. Nunca os anões haviam trabalhado tanto como nos últimos tempos: avisados de algo, ou simplesmente premidos pelas circunstâncias, suas forjas há muito tempo não se apagavam, produzindo, noite e dia, milhares de espadas, lanças e escudos de Iodos os tipos e feitios. Rios de ouro desaguavam às portas de suas cavernas em pagamento pelos artefatos, pois todas as raças sabiam que, muito em breve, pilhas de ouro não teriam valor algum diante de uma boa espada ou de um escudo razoavelmente sólido.
O Galo de Ouro cantou, como fazia todos os dias no topo do portão de Asgard. Sua saudação ao sol, entretanto, soou inútil, pois naquele dia o sol não nasceu. Corriam rumores horríveis pelo mundo acerca dos filhos de Fenris, o lobo gigantesco. Diziam estas vozes apavoradas que um deles, finalmente, conseguira engolir o sol, enquanto que o outro, a lua.
- Já não há mais sol nem lua pelos céus, Odin supremo! - disse um mensageiro, após atravessar Bifrost, a ponte do arco-íris que levava a Asgard. - É o começo do fim!
Uma escuridão espectral espalhara-se pelo mundo e, agora, a noite era a soberana do universo. Odin aproximou-se da janela e tentou escutar os rumores que chegavam do mundo lá embaixo. Algo como o ruído surdo e contínuo de um terremoto rolava da escuridão até chegar aos portões de Asgard como um rosnar ameaçador. O deus, tomando de sua lança Gungnir, correu até o seu trono mágico, de onde podia observar tudo quanto se passava nos nove mundos.
Nada podia ser mais aterrador: em todos eles, reinava a mais negra escuridão e somente se podia enxergar algo graças aos clarões das tochas e dos incêndios que lavravam por toda parte, Incêndios provocados por vulcões - que irrompiam do chão, violentamente, e sem aviso, engolindo populações inteiras - e das guerras de pilhagem promovidas por vândalos e seus exércitos arregimentados unicamente pelo caos.
- Então, finalmente, chegou o dia... - disse Odin, abaixando a cabeça como quem espera a iminente realização de uma funesta profecia. - Thor, mande reunir todos os deuses capazes de empunhar uma lança e os avise de que todos devemos rumar para o Valhalla - disse o velho deus, recuperando aos poucos a altivez. -Chegou a hora de unir nossos exércitos e nos preparar para a última batalha.
***
Os tremores de terra não haviam somente destruído casas e matado populações inteiras. Haviam também conseguido deslocar as pedras de duas cavernas onde estavam presos, há muito tempo, dois personagens que o destino escolhera para protagonizar o começo da ruína dos deuses.
Numa destas cavernas estava Loki, o perverso filho dos gigantes, preso às rochas, desde há muito tempo, por sólidas correntes. Entretanto, durante a noite, o prisioneiro barbudo vira cessar o seu tormento, o qual consistia em ter uma serpente a gotejar, permanentemente, sua baba pestilenta sobre o seu rosto. Por que ela teria cessado, espontaneamente, de o atormentar?, perguntara-se Loki a noite inteira. Teriam os deuses o perdoado? Cessara, afinal, a mágoa no peito de Odin pela morte de seu adorado filho Balder?
Estrondos sacudiram tudo a noite inteira até que um tremor mais forte deslocou as duas pedras que mantinham presas as suas correntes.
- Oh, será verdade? - disse ele, pondo-se em pé depois de muitos e muitos anos. - Estou livre, finalmente, livre...!
Loki gritou e sapateou como uma criança até que uma idéia iluminou a sua mente: - Se estou livre, isto só pode significar uma coisa... - disse ele, custando a crer que o seu dia chegara. - Soou a hora do grande confronto com os deuses!
De repente, porém, suas palavras foram cortadas por um terrível uivo: era Fenris, seu filho lobo, quem também se via livre de suas correias. Um exército de gigantes conseguira localizá-lo e libertá-lo das indestrutíveis cadeias forjadas pelos anões. O velho lobo ainda podia sentir na boca o gosto da mão de um deles, Tyr, o deus audaz, que ousara arriscá-la para garantir o sucesso da trapaça de seus companheiros.
- Vamos, Fenris! - bradou um dos gigantes, carregando uma pesada clava. - Chegou a hora de ajustar as contas com o velho deus!
O lobo, também sem poder acreditar, despedira, então, o seu pavoroso uivo, que prenunciava a sua vingança, o qual Loki escutara da sua caverna.
Lançando longe as suas cadeias, Loki tratou de rumar, logo, para a região sombria de Musspel, onde sabia que um poderoso exército de gigantes mortos o aguardava. Ele, Loki, teria a honra de ser o timoneiro do navio que conduziria o exército espectral para o confronto, enquanto Surt, o deus do fogo, guiaria também, com sua espada chamejante, os seus exércitos rumo a Asgard. Ao mesmo tempo, a terrível Iormungand, a Serpente do Mundo, provocava maremotos colossais ao lazer a sua marcha em direção a terrível batalha final.
Antes do fim do dia, estavam todos reunidos, prontos para galgar o último obstáculo que os separava dos deuses entrincheirados: a ponte Bifrost, guardada por Heimdall, inimigo figadal de Loki.
- Todos a Asgard! Morte aos Aesires! - bradava Loki, feito agora comandante supremos das forças destrutivas.
Os exércitos maciços começaram, então, a subir a ponte, num arremesso que escureceu e fez abalar inteiro o arco-íris, enquanto que, pela segunda vez naquele dia, o Galo de Ouro fazia ouvir a sua estridente voz.
***
Alertado pelo canto do galo, Heimdall, o guardião da ponte, acorreu logo à toda pressa para a trombeta gigante, instalada ao lado do portão de Asgard. Apesar de ter esperado por isto a vida inteira, Heimdall sentiu-se francamente surpreso com a reação que isto despertara nele: era um misto de terror, aflição e, ao mesmo tempo, de euforia. Sim, de euforia, pois, agora, a angústia - aquele sentimento daninho que roía seu coração dia após dia - finalmente, acabara: chegara, afinal, a hora do confronto: de resolver, de uma vez, a pendenga que, durante milênios, opusera os deuses a seus inimigos mortais.
As forças de Odin - os melhores guerreiros que o universo já pudera produzir - estavam prontas para o combate. Montado em seu cavalo Sleipnir, Odin, cercado por Thor e Freyr, aguardava apenas o momento certo para dar a ordem de ataque, quando escutou o ruído da trombeta. Durante alguns instantes, só se ouviu o soar, majestosamente aterrador, daquele instrumento poderoso, até que a fúria e a gana de combater começou a inflamar o peito dos guerreiros. Todos sabiam que iriam perecer, mas a eles bastava a consciência de saber que o fariam com coragem e altivez e que seus inimigos também iriam misturar o seu sangue ao dos heróis. Se tudo se resumia a uma grande batalha - a maior de quantas já houvera - e, se eles iriam ter a honra suprema de ser protagonistas dela, então estava tudo muito bem.
- Odin, as forças inimigas já sobem por Bifrost...! - exclamou Heimdall, montado em seu cavalo branco e de lança enristada.
- Aguardaremos que rompam o portão; então, atacaremos sem nenhum medo ou piedade - disse o líder dos deuses sem demonstrar qualquer vestígio de receio.
Entretanto, quando os gigantes e as outras criaturas sinistras estavam quase para chegar aos portões de Asgard, escutou-se o ruído pavoroso de algo que ruía. 'Iodas as cabeças voltaram-se para a direção do ruído estrepitoso, mas somente Heimdall pôde observar um espetáculo digno dos deuses: a ponte Bifrost ruíra, lançando para baixo todos os exércitos numa confusão de braços e pernas humanos misturados a patas de cavalos e de outros seres repulsivos.
Um estrépito de vivas! sacudiu as colunas de Asgard. Inflamados por aquele breve triunfo inicial, todos comemoravam, menos Odin, que parecia mergulhado num supremo devaneio: - Thor, não sei se, para você, a sensação é a mesma - disse ele, cochichando ao ouvido do filho as suas últimas palavras -, mas estou me sentindo leve, agora... muito leve! - Um sorriso, quase de êxtase, brilhava por baixo de suas barbas esbranquiçadas.
- Sim, meu pai, sinto o mesmo - disse Thor, empunhando com ainda mais força Miollnir, o seu inseparável martelo. - Parece que vai começar, agora, a melhor de todas as brincadeiras!
- Sim... a melhor de todas as brincadeiras...! - repetiu Odin e, antes que pudesse retomar o fôlego, despediu um grande grito: - Adiante, guerreiros de Odin! Pela honra dos Aesires, empunhemos as espadas!
Os portões de Asgard foram abertos pela última vez. Numa gigantesca cavalgada, os exércitos divinos desceram pelo que restava da ponte do arco-íris indo, diretamente, de encontro às forças inimigas que já estavam reorganizadas nos campos de Vigrid, local, agora, do último e apocalíptico combate.
***
Os exércitos engalfinharam-se num choque de espantosa brutalidade, que tirou, imediatamente, a vida de milhares de combatentes. As espadas e as lanças começaram a retinir, enquanto verdadeiros rios de sangue escorriam pelos pés dos guerreiros. Os inimigos declarados procuravam-se por entre as hordas anônimas e parecia que cada qual sabia, exatamente, o papel que deveria executar, pois, um a um, os inimigos pessoais foram se encontrando para seus ajustes e desforras pessoais.
Freyr, o deus que viera a Asgard como um intruso e acabara caindo nas graças de Odin, foi o primeiro a se defrontar com seu inimigo, o gigante Surt.
Segurando sua espada flamejante, o gigante avançara impávido na direção do deus. Nenhum disse qualquer palavra, mas Freyr soube, desde o primeiro instante, que marchava para a morte. Sem portar a sua espada mágica - que tivera a desventura de entregar há muito tempo a seu descuidado servo Skirnir -, Freyr ergueu a sua lança e tentou aparar o golpe da terrível arma de seu oponente. Mas, foi tudo em vão: a lança partiu-se e o deus caiu morto sob o golpe certeiro do gigante em chamas.
Um pouco mais adiante, Tyr, o deus maneta, após ter matado centenas de inimigos, perecia nos dentes de Garm, o cão de guarda infernal, parecendo ser sua sina ser sempre alvo dos dentes de algum animal de poderosas mandíbulas. Mas, antes de morrer, enterrara no coração da fera o aço escaldante de sua espada, vingando, assim, a morte do mais valente dos deuses.
Loki e Heimdall, que tantas disputas travaram anteriormente, estão agora frente a frente. Seus dentes estão cerrados, mas, curiosamente, parecem sorrir ao mesmo tempo. Em seguida, os dois atiram-se um ao outro com suas espadas afiadas, mas são logo engolfados por uma multidão de combatentes que atiram às cegas as suas cutiladas. Quando a multidão se desfaz - em sua maioria caída e morta ao chão - vê-se que Loki e Heimdall estão ambos caídos também lado a lado. Nenhum registro se fez da maneira como ambos deram um fim à vida do outro e à rivalidade que sempre os uniu.
Quanto Thor, teve, finalmente, a oportunidade de travar seu duelo com a Serpente do Mundo, duelo tão esperado que todos os combatentes que estavam por perto abaixaram as suas armas apenas para observá-lo. Era, afinal, um espetáculo único, que pouquíssimas criaturas poderiam ter o privilégio de assistir - e, quem sabe, um dia, contar em algum outro lugar, caso houvesse ainda um lugar para se ir depois daquele fim de mundo. Thor arremessou-se com seu martelo ao pescoço da serpente e, após abraçar-se a ela, desferiu com toda a força a sua arma sobre o crânio da fera que desfaleceu, em seguida com os miolos botados para fora.
- Thor, você venceu, afinal! - exclamou Odin, que vira tudo de longe.
Mas, infelizmente, à sua vitória seguiu-se, logo, a sua própria morte, pois após dar quatro passos para trás, Thor caíra morto ao chão, bafejado que fora pelo veneno da serpente. Sua mão, no entanto, não desgrudou do martelo Miollnir e nenhum outro combatente teve força bastante para fazê-lo abandonar, mesmo depois de morto, a sua querida arma, que diziam ter amado mais do que à sua própria esposa, a adorável Sif dos cabelos dourados.
Odin, então, cego de ódio, procurou por entre a multidão o seu inimigo, que não poderia ser outro, senão o grande lobo Fenris. - Aqui estou, fera assassina! - bradou o deus, ao avistar o lobo, procurando já a própria morte.
Esporeando seu cavalo de oito patas, Odin empunhou pela última vez sua lança Gungnir e se lançou ao encontro do terrível inimigo. O lobo, entretanto, com uma única bocada, engoliu o maior dos deuses. Um silêncio mortal caiu sobre o campo ensangüentado de Vigrid.
- Meu pai, não! - exclamou Vidar, um dos filhos do velho deus, desmontando de seu cavalo e indo em direção ao vitorioso lobo. Um sorriso parecia arreganhar ainda mais os dentes manchados de sangue de Fenris. Mas, desta vez, ele encontraria seu próprio fim, pois Vidar, enlouquecido pela fúria, ousou entrar dentro da própria boca do lobo para matá-lo e o fez da seguinte maneira: firmando bem os pés sobre a língua do animal, antes que este pudesse entender o que o agressor fazia, empurrou o maxilar superior do lobo para cima até rasgar o animal em dois. Este fato encheu de assombro deuses e gigantes, que viram no filho um legítimo sucessor do pai.
Mas a guerra ainda continuou por muito tempo, mesmo depois de mortos os seus protagonistas, até que Surt, vendo que tudo estava consumado, empunhou um imenso facho, que parecia um novo sol e saiu pelo mundo a colocar fogo em tudo.
O pânico estabeleceu-se nos dois exércitos, quando perceberam que, agora, não havia mais inimigo algum a combater, senão, a própria morte e que o melhor a fazer era tratar de salvar a vida.
Mas agora, definitivamente, já era tarde para pensar em salvação: o mar secara inteiramente; a terra abrasara-se num incêndio arrasador; e o próprio céu derreteu, caindo sobre a terra como uma imensa cortina em chamas.
***
O grande cataclismo terminara com a queda de Yggdrasil, a grande Árvore da Vida. Após ter sido roída, dia após dia, pelos dentes afiados da serpente Nidhogg, ela não pudera suportar a grande catástrofe e ruíra, liquidando com todos os nove mundos e com quase todos os seus habitantes. Diz a lenda que, entre os homens, apenas um casal pôde sobreviver: ele se chamava Lif e ela Lifthrasir, e foi justamente graças à portentosa árvore, que puderam fazê-lo, pois esconderam-se dentro de sua espessa casca, como no ventre da natureza e da própria Vida.
Também alguns poucos deuses conseguiram escapar ao flagelo destrutivo -entre eles, Vidar, o filho que vingara a morte de Odin; e Magni, um dos filhos de Thor. Também Balder, o mais puro dos deuses, ressuscitara, junto com Hoder, o desastrado irmão cego que o matara, inadvertidamente, por uma astúcia de Loki.
E assim, Lif e Lifthrasir repovoarão o mundo, enquanto que, segundo os versos da Edda imortal,
Os Aesir vão se encontrar novamente no Idavoll
e relembrarão a poderosa Serpente do Mundo,
lembrando também os decretos maravilhosos
e os mistérios do antigo e poderoso deus.
Vidar cortando Fenris ao meio
 


Obrigada por sua atenção ♥

A captura do lobo Fenris



Loki, o mais astucioso dos deuses nórdicos, era mestre na arte da dissimulação e dos disfarces, tendo conseguido transferi-la aos próprios filhos. Destes, os mais importantes são Iormungand, a serpente do mundo; Hel, a deusa infernal; e Fenris, o lobo gigante.
A princípio os três eram gigantes normais, mas logo tomaram as formas monstruosas que seu perverso pai determinara, pois todos haviam sido gerados com um único propósito: o de destruir os deuses, pondo fim ao seu domínio sobre o céu e a terra.
Odin, entretanto, previu tudo isto por meio de um oráculo das suas runas c resolveu dar, logo, caça a estes monstros, enquanto ainda eram crianças.
Sozinho, deu conta da serpente, lançando-a ao mar, onde ela cresceu de maneira tão desmedida que se tornou capaz de dar a volta ao mundo e morder a própria cauda. (Thor, mais adiante, tentou pescá-la, porém, sem sucesso.)
Hel, a sombria deusa da morte, foi lançada às regiões escuras e geladas do Niflheim. Com seu rosto metade claro e metade negro, tornou-se a autoridade maior do reino dos mortos. Mas, às escondidas, passou também a arregimentar um terrível exército espectral que seu pai Loki, haveria de comandar no dia da Ragnarok (o "Crepúsculo dos Deuses"), a grande conflagração final, que poria fim aos deuses e ao próprio mundo.
Já com o lobo Fenris, a história foi bem mais complicada, pois nenhuma outra criatura se mostrou tão arredia e perigosa aos deuses quanto este animal.
Tudo começou quando Odin chegou a Asgard conduzindo um pequeno animalzinho que, a princípio, não era maior do que um filhote de Ruskie. Com seus olhos oceanicamente azuis, encantou logo a todos na morada dos deuses, cm especial, às mulheres, que não cessavam o dia inteiro de acariciá-lo.
Fenris, no entanto, olhava sempre de lado para aquela raça inimiga e, desde o começo, deixou bem claro que não ia com a cara de ninguém por ali. Da cara feia, passou logo às dentadas e foram tantos os conflitos, que todos fugiam espavoridos do animal - o qual crescera de maneira tão prodigiosa, que, já nos primeiros dias, havia alcançado o tamanho de um leão avantajado.
Imediatamente, começaram a surgir queixas de todos os lados.
- Odin, onde é que você estava com a cabeça, ao trazer esta fera para dentro dos portões de Asgard? - disse um dia Frigga, sua esposa, que já contabilizava quatro mordidas pelo corpo (uma delas, num local bastante incômodo).
- Ora, um animalzinho tão dócil...! - disse Odin, tentando disfarçar o erro.
Mas, ele próprio sabia que a coisa não era bem assim, pois dentre todas as divindades parecia ser ele a presa mais visada, a ponto de não poder chegar perto do lobo sem que ele lhe arreganhasse as presas afiadas como punhais.
Afinal, a coisa evoluiu de tal modo, que a criação de Fenris foi entregue a Tyr, considerado o mais corajoso dos deuses.
- Deixem comigo - disse ele, tomando o lobo e o levando para casa.
Mas, nem mesmo o deus feroz foi capaz de amansar o seu gênio. Diversas vezes, escapulia e voltava a espalhar o terror entre os deuses até que Odin chegou à conclusão que deveriam prender o animal num local ermo e afastado de tudo.
- Do jeito que ele continua crescendo - disse Tyr, na reunião que decidiu o destino do lobo gigantesco -, logo ele será capaz de engolir Asgard inteira, numa única bocada.
Então, os deuses providenciaram uma corrente chamada Laeding, a mais forte que puderam encontrar. Seus elos de ferro tinham a espessura de uma coluna e seu cadeado fora forjado do mais puro aço.
- Desta, ele jamais escapará - disse Tyr, ao apresentar a magnífica corrente.
- Mas como o convenceremos a se deixar acorrentar? - disse Odin ao conselho.
- Simples - respondeu Tyr, socando os punhos (era um velho hábito seu) -, basta que lhe digamos que se trata de um desafio à sua extraordinária força. Sendo filho de quem é, não se furtará a um bom exibicionismo.
Odin, diante destes bons argumentos, resolveu arriscar.
***
Fenris era um lobo dotado de fala, mas não era de muita conversa, como já se pôde perceber. Na manhã seguinte, aceitou ser levado até um lugar muito distante de Asgard, a pretexto de um passeio. Odin aproximou-se, cautelosamente, e se pôs a tagarelar com o animal que permaneceu impassível, a observá-lo do alto com os olhos semi-cerrados. A única coisa que se escutava de Fenris -que se convertera num monstruoso animal, mais alto que o maior dos palácios de Asgard -, era um grunhido sinistro, como se houvesse um monte de seixos rolando dentro da sua garganta.
- Fenris, você é um animal, verdadeiramente, grandioso! - disse o deus, tentando conquistar-lhe a confiança. - Na verdade, há um consenso unânime mire os deuses de que não há nenhuma outra criatura em todos os nove mundos que lhe exceda em tamanho e vigor. Por isto, decidimos propor-lhe um desafio.
Fenris virou-se para o lado e viu algo que parecia uma imensa centopéia negra, a rastejar, penosamente, pelo terreno acidentado do vale. Era Tyr e uma legião de ajudantes que traziam acima dos braços a imensa corrente estendida.
O ruído gorgolejante na garganta de Fenris redobrou de intensidade.
- O que acha desta corrente? - disse Odin, assim que os esbaforidos deuses haviam-na depositado diante de Fenris.
- Que tem ela? - respondeu, finalmente, o lobo numa voz que era mais um uivo medonho do que qualquer outra coisa.
- Que tal testar nela a sua força?
Fenris observou bem a pesadíssima corrente, alisando os elos com sua imensa pata esbranquiçada. "Barbadinha!", pensou.
- Podem amarrar-me nesta tira de sandálias - disse o lobo, com um ar de desdém.
Imediatamente, todos os deuses começaram a envolver o lobo - que se estirara ao comprido - nos elos da pesadíssima corrente. Vários cadeados foram afixados e, quando Fenris pareceu estar, finalmente, bem aprisionado, todos correram para longe.
- Muito bem, tente agora se libertar! - disse Odin, com um grito.
Fenris abriu uma bocarra enorme, tão escura, que se fez noite ao seu redor; em seguida, fingiu espreguiçar-se, estirando todos os seus musculosos membros. Um estrondo apocalíptico reboou pelo vale desolado, fazendo com que Iodos os deuses se agachassem - menos, é claro, Tyr, o mais valente deles.
Quando o lobo medonho fechou a boca, novamente, e a luz voltou a brilhar, percebeu-se, então, que da corrente só haviam restado os seus elos partidos, espalhados por todos os lados como anéis de chumbo que algum gigante houvesse espargido, por pirraça, para o alto.
"Brincadeira sem graça...!", pensou Fenris, pondo-se em pé, outra vez, pronto a fazer alguém pagar o preço do seu enfado.
Os deuses estiveram atônitos por um largo tempo até que Odin reassumiu o controle da situação.
- Muito bem, Fenris! - disse ele, aplaudindo o lobo. - Agora, vamos ver se você é mesmo o tal! - E virando-se para os companheiros, ordenou: - Vamos, tragam logo a outra...!
Por precaução, havia sido preparada uma outra corrente (que o ferreiro, autor dela, reputara como infinitamente mais sólida do que a primeira), a qual foi trazida ainda com mais lentidão do que a primeira, tal o seu peso descomunal.
- Que tal lhe parece? É Droma, a mais sólida corrente já feita. Será que esta você agüenta? - disse Odin, com um ligeiro tom de mofa na voz.
Um reboar sinistro sacudiu as entranhas do lobo, parecendo que ele guardava dentro de si um depósito de trovões. Aproximou-se da corrente, que parecia bem mais sólida do que a primeira, e a examinou atentamente. Seu poderoso focinho entrou em ação e começou a farejar, demoradamente, a corrente, tempo bastante para que seu cérebro pudesse identificar todos os metais que compunham a liga daquela espantosa cadeia. "Barbada!", pensou, porém, não tão seguro como da primeira vez.
- Podem amarrar-me nesta corda de enforcar! - disse ele, lambendo os beiços.
De novo, todos os deuses e seus ajudante entregaram-se à tarefa estafante de estender sobre o pêlo macio de Fenris os elos da cadeia gigantesca.
- Está pronto? - disse Odin, dando novo grito.
O lobo deu um grande latido, que derrubou uma montanha próxima.
- Pode começar! - disse o deus, disparando junto com os demais, à exceção, é claro, de Tyr, o mais destemido, que ficou a observar tudo quase ao lado do lobo, socando os punhos, como de hábito.
Desta vez, Fenris encontrou um pouco mais de dificuldade, pois não lhe bastou retesar, simplesmente, os músculos. Um sorriso de vitória desenhou-se nos lábios de Thor, o deus do trovão - que estava por perto, de martelo na mão, para alguma eventualidade -, bem como no semblante dos demais deuses.
Fenris rosnou e um latido de raiva cortou os ares. Então, começou a se debater e a lutar, verdadeiramente, contra a corrente, o que bastou para a despedaçar em poucos minutos. "Isto cansou-me um pouquinho!", pensou o lobo. "Mas alguém vai pagar!"
Frustrados, os deuses viram-se obrigados a abandonar o local do desafio e já estavam todos retornando, cabisbaixos, junto com o perigoso animal - que abanava alegremente a sua cauda, provocando um vendaval atrás de si - quando Skirnir, o fiel ajudante do deus Freyr, aproximou-se de Odin e lhe disse:
- Poderoso deus, permita que eu vá até a terra dos anões, ver se consigo arrumar com eles uma corrente verdadeiramente forte!
- Os anões...? - disse Odin, cocando a barba.
- Sim, não são eles os maiores ferreiros de todo o mundo? - ajuntou Skirnir, cheio de esperanças. - Com toda a certeza, serão capazes de forjar uma cadeia indestrutível, capaz de aprisionar Fenris ou qualquer outro ser tão forte quanto ele!
Odin aceitou a sugestão na mesma hora e propôs a Fenris passarem a noite ali mesmo, no aguardo do retorno de Skirnir, que ficaria encarregado de trazer, junto com outros homens, a tal corrente dos anões (não revelou, no entanto, quem seriam os seus artífices, pois temia que o lobo desistisse do desafio quando soubesse). Todos os demais retornaram junto com Odin, pois desconfiavam, naturalmente, do mau gênio do lobo.
Aquela, com certeza, não foi a noite mais agradável que os deuses passaram neste mundo.
***
Skirnir fora até Svartalfheim, a terra dos anões, situada nas profundezas da terra. Montado no cavalo de Odin, o mais veloz do universo, ele lá chegara ainda antes do anoitecer. Encontrou os anões atarefados, como de hábito, e explicou o caso, misturando sua voz ao ruído dos martelos e dos foles, que rugiam sem parar.
- Realmente, é um caso bem difícil - disse um dos anões, retirando o gorro e dando uma valente cocada na cabeça.
Estas duas coisas reunidas, para um perito cm anões, queriam dizer simplesmente: "Está bem, faremos o que pede, mas o preço serão alguns bons barris repletos de ouro!"
Skirnir, usando das mesmas metáforas consagradas pelo uso, respondeu:
- A coisa está preta pra todo mundo, mas veremos o que se pode fazer... - o que significava mais ou menos isto: "Está bem, seu tratante, nós temos urgência do serviço e, só por isso, iremos pagar o seu preço!"
Os anões largaram, então, tudo o que estavam fazendo e se puseram a confabular secretamente. O líder deles destacou, logo, meia dúzia de colegas para que fossem procurar os artigos necessários para a confecção da corrente. Skirnir, por sua vez, sentou-se num local afastado e ficou a observar a atividade dos pequenos seres.
- Eles custarão a retornar? - disse ao anão-chefe.
- Depende... agora é noite e como está muito escuro... - (ou seja, "Ponha mais um barrilzinho aí!")
Skirnir balançou a cabeça:
- Sim, mas haverão de encontrar... - (ou seja, "Só mais um, miserável!")
Parece que os anões andarilhos haviam escutado a conversa, pois retornaram, rapidamente, trazendo cada qual um artigo mais insólito que o outro: o primeiro trouxe o som das passadas de um gato; o segundo, os fios da barba de uma mulher; o terceiro, as raízes de uma montanha; o quarto, os tendões de um urso; o quinto, o hálito de um peixe; e, finalmente, o sexto, o cuspo de uma ave.
Eram estes os ingredientes principais da corrente que se chamou Gleipnir, embora algumas versões apócrifas ainda incluam muitos outros elementos dificílimos de encontrar, tais como a luz dos olhos de um cego, as solas dos sapatos de um pé de página, a piedade de uma beata, as promessas generosas de um fala-mansa - e uma dezena de outras quimeras, as quais somente a astúcia gigantesca dos anões é capaz de encontrar.
Imediatamente, entregaram-se todos à confecção da corrente, usando da arte e da magia, pois só a arte não bastaria para fazer uma corrente absolutamente indestrutível. Antes do dia amanhecer, ela estava pronta e foi apresentada a Skirnir, que já roía as unhas de apreensão pela demora.
- Aqui está Gleipnir, a nossa obra-prima! - disse o anão-chefe, coberto de suor, mas com o semblante iluminado de quem fez algo de que pode se orgulhar.
Skirnir tomou-a nas mãos; ela estava toda enrolada e, apesar disso, não pesava mais que a boa-fé de um cínico.
- Isto é um deboche? - perguntou Skirnir, indignado por aquilo que lhe parecia uma reles pilhéria de anão. - Um punhado de algodão pesa mais do que isto!
- Tente quebrá-la, então - disse o anão, estendendo-lhe um machado.
Skirnir desceu o gume afiado sobre o fio estendido - que tinha a textura da mais fina das sedas - e o resultado é que o machado partiu-se em duas partes.
- Bem... não me parece inteiramente mau, afinal... - disse Skirnir, querendo dizer: "Nossa, que preciosidade! Passem logo para cá!"
- Esperamos que não o tenha decepcionado inteiramente - disse o anão-chefe, ou seja, "Aí está, bobão, mas não esqueça dos nossos ricos barrilzinhos!"
Skirnir agarrou a corrente, montou em Sleipnir e partiu a todo galope rumo ao local onde deixara os deuses às voltas com o perigosíssimo lobo.
***
Odin não acordou muito cedo aquela manhã - simplesmente porque não dormira um minuto sequer. Desde os primeiros sinais da aurora, o deus vasculhava já a risca do horizonte com seu único olho em busca do criado de Freyr. Aos poucos, os demais deuses foram erguendo-se, enregelados, e começaram a expulsar a neve que cobria seus mantos.
- Será que Skirnir conseguiu? - disse Freyr, aproximando-se de Odin.
Mas antes que o deus pudesse responder, o lobo gigante deu, novamente, um de seus bocejos colossais, quase trazendo de volta as trevas da noite.
- Onde está o pigmeu que foi atrás dos anões? - disse o lobo, impaciente. - Quero cair fora logo daqui!
De repente, porém, Odin exclamou, aliviado:
- Vejam... aquele pontinho distante... bem lá ao fundo... é Sleipnir!
Todas as cabeças voltaram-se, instantaneamente, naquela direção.
- Aond...
- Aqui está a amarra! - disse Skirnir, apeando já do cavalo. (Aquele cavalo era realmente rápido!)
Odin tomou nas mãos o carretel que trazia enrolada a corda. Um ar de frustração lançou uma sombra em seu rosto.
- Não se preocupe, deus poderoso - disse Skirnir, ao ouvido de Odin. Eu já a testei e corrente alguma seria capaz de igualá-la.
Odin olhou para os demais deuses em busca de uma opinião, mas foi Freyr, o patrão de Skirnir, quem o tranqüilizou:
- Pode confiar no que ele diz e, ainda mais, na arte dos anões.
Sem mais conversas, dirigiram-se, então, até onde Fenris estava sentado.
- Vamos terminar com isto de uma vez - disse Odin ao pavoroso lobo.
Fenris, no entanto, pareceu extraordinariamente curioso com aquela cordinha mixuruca que haviam trazido.
- É alguma piada sem graça daqueles tatus das cavernas? - disse ele, repetindo a incredulidade de Skirnir.
- Oh, não! - disse Odin. - É uma corda muito sólida. Ao menos foi o que garantiram os tatus... digo, os anões.
Odin fazia um esforço para se mostrar quase tão incrédulo quanto o lobo, para que ele não desconfiasse de nada. Fenris dilatou o focinhão e farejou logo a perfídia no ar.
Os deuses já estavam desenleando o fio, sem dar muito tempo ao lobo de raciocinar. Mas este correu logo até o carretel e começou outra vez a farejar a corda que o envolveria. "Aqui tem coisa!", pensou. Cheirou, cheirou e já estava disposto a ceder, sem qualquer condição, quando identificou de repente um odor traiçoeiro na comprida corda (a lenda não especifica qual teria sido, mas podemos, perfeitamente, imaginar que fossem as "passadas do gato" ou as tais "promessas generosas de um fala-mansa").
Fenris, então, assaltado pela dúvida, viu travar-se dentro de si uma tremenda batalha entre a Vaidade e a Precaução: ambas, iradas, atiraram-se uma sobre a outra, com um fúria verdadeiramente diabólica. Ao final do combate, a Vaidade havia triunfado; porém, a Precaução, ainda que toda arranhada, ganhou um prêmio de consolação:
- Muito bem, vamos a isto! - disse o lobo, inteiriçando-se. - Mas, desta vez, imporei uma condição.
Os deuses entreolharam-se, desagradados.
- Condição? - disse Odin, cerrando o único olho. - Que condição?
- Quero que algum de vocês mantenha uma das mãos dentro da minha boca durante toda a operação.
- A troco do quê?... - disse Thor, adiantando-se.
- Se estiverem tramando uma maldita armadilha para cima de mim (como realmente parece que estão!) - disse o lobo, exibindo as presas -, saberei vingar-me na mesma hora!
Um silêncio opressivo desceu sobre o vale. Mais uma vez, a velha história do gato e do guizo repetia-se (ou se antevia): quem colocaria a mão na boca do lobo?
Todos eles eram deuses amantíssimos da coragem, mas a precaução (convieram, então, unanimemente), também era uma bela coisa. Cada qual procurou, assim, uma desculpa para se esquivar: Odin alegou que já perdera um olho e que perder uma mão também já seria demais; Thor alegou que sem a mão não poderia arremessar seu martelo (ninguém ousou levantar a constrangedora objeção de que possuía outra mão); Freyr disse que suas mãos eram o complemento necessário uma da outra e que, por isso mesmo, não podia prescindir de nenhuma das duas (argumento, evidentemente, pífio, mas que externou de maneira tão obscura, que ninguém chegou sequer a entendê-lo).
E, assim, todos os demais foram se esquivando como puderam até que, finalmente, o deus Tyr, enojado com tanta covardia - nojo que expressou apenas pelo seu gesto -, adiantou-se e exclamou:
- Está bem, eu coloco a mão na boca do lobo...!
Um silêncio aliviado desceu sobre o vale. Sem dizer mais nada, os demais recomeçaram a difícil operação.
Derrubaram grandes árvores que, depois de desbastadas, serviram de estacas para firmar os membros atados do animal. Dezenas de vezes, o fio sedoso, mas ultra-resistente, cruzou os membros de Fenris até imobilizá-lo completamente. O mais difícil foi fazer tudo isto sem que o lobo cerrasse suas poderosas mandíbulas sobre a mão de Tyr. O deus audaz, entretanto, permanecia impassível como um verdadeiro mártir do destemor, sentindo sua mão encharcada da saliva que gotejava de maneira incessante dos dentes da fera.
- Está terminado! - exclamou Odin, depois de muito tempo.
De fato, tudo estava firmemente amarrado - até a cauda peluda, que por si só poderia arremessar à distância um exército inteiro de deuses.
Então, Fenris começou a se debater, pois sabia que aquela cordinha, aparentemente frágil, escondia uma artimanha divina. A terra inteira sacudiu-se com os sacolejões que o animal dava para se ver livre das terríveis amarras. Foi um milagre que não só a mão, mas o corpo inteiro de Tyr, não tivesse sido engolida nestes arremessos. Durante quase o dia inteiro, o lobo descomunal lutou para se libertar de suas cadeias, porém, sem sucesso. Quando, finalmente, convenceu se que caíra mesmo numa solerte armadilha, deu um grande rosnado - pois em momento algum desprendera os dentes do pulso de Tyr - e cerrou com toda a força as presas sobre ele.
O valente Tyr, diga-se em sua honra, não despediu um grito sequer, embora suas feições tenham adquirido a cor terrosa dos mortos. Quando ele retirou o toco do punho - sua mão já estava para sempre na goela do monstro -, um jato de sangue tingiu o pêlo de Fenris e é por isto que ele passou a ter uma grande mancha vermelha pintada no dorso.
Mas, embora a vingança, nem assim Fenris sossegou, começando, em seguida, a latir com tal intensidade que os deuses se viram obrigados a levá-lo -sempre amarrado - para uma gruta profunda debaixo da terra. Ali, o próprio Tyr colocou sua espada entre os dentes do lobo, fazendo assim a sua própria vingança.
- Mastigue isto, agora! - disse ele, dando em seguida as costas, junto com os demais.
Fenris, o temível lobo, ficaria acorrentado desta maneira ainda por muitos e muitos anos, até que chegasse o dia da grande conflagração final entre os deuses e seus inimigos. Quando, liberto de suas cadeias, enfrentaria o próprio Odin num duelo mortal.
Filhos de Loki

E pensar que ele era só um animalzinho...