domingo, 26 de junho de 2011

Boiúna



A boiúna, de mboi, "cobra" e una, "negra", também conhecida como boiaçu, de mboi e açu, "grande", ou ainda cobra-grande é, segundo Câmara Cascudo, o mais poderoso e complexo dos mitos amazônicos, exercendo ampla influência nas populações às margens do rio Amazonas e seus afluentes.
Faz parte do ciclo dos mitos d'água, de que a cobra é um dos símbolos mais antigos e universais. Senhora dos elementos, a cobra-grande tinha poderes cosmogônicos, explicando a origem de animais, aves, peixes, o dia e a noite. Mágica, irresistível, polimórfica, aterradora, a cobra-grande tem, a princípio, a forma de uma sucuri ou uma jibóia comum. Com o tempo, adquire grande volume, abandona a floresta e vai para o rio. Os sulcos que deixa à sua passagem transformam-se em igarapés. Habita a parte mais funda do rio, os poções, aparecendo vez por outra na superície. É descrita como tendo de 20 metros a 45 metros.
Martius (Viagem pelo Brasil) registrou a força assombrosa do medo que os indígenas tinham do monstro, com as dimensões multiplicadas pelo terror. Chamavam-no de Mãe-d'água e Mãe-do-rio, mas as histórias só mencinavam a voracidade da cobra-grande, arrebatando crianças e adultos que se banhavam. Recusavam-se a matar a cobra, porque então era certa a própria ruína, bem como de toda a tribo.


Mitos:

  • Em Belém, há uma velha crença de que existe uma cobra-grande adormecida embaixo de parte da cidade, cuja cabeça estaria sob o altar-mor da Basílica de Nazaré e o final da cauda debaixo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outros já dizem que a tal cobra-grande está com a cabeça debaixo da Igreja da Sé, a Catedral Metropolitana de Belém, e sua cauda debaixo da Basílica de Nazaré: é o percurso da tradicional procissão do Círio de Nazaré, com 3,3 quilômetros de extensão. Os mais antigos dizem que se algum dia a cobra acordar ou mesmo tentar se mexer, a cidade toda poderá desabar. Por isso, em 1970 quando houve um tremor de terra na capital paraense, dizia-se que a tal cobra havia se mexido. Os mais folclóricos iam mais longe: "imagine se ela se acorda e tenta sair de lá!".
  • Em Roraima, conta-se que Cunhã Poranga ("índia bela") apaixonou-se pelo rio Branco e, por isso, Muiraquitã ficou com ciúme. Para se vingar, Muiraquitã transformou a bela índia na imensa cobra que todos passaram a chamar de Boiúna. Como ela era tinha um bom coração, passou a ter a função de proteger as águas de seu amado rio Branco.
  • Entre as populações que habitam as margens dos rios Solimões e Negro, no Amazonas, acredita-se que quando uma mulher engravida de uma visagem, a criança fruto desse terrível cruzamento está predestinada a ser uma cobra-grande.
  • Há quem acredite que a cobra-grande pode nascer de um ovo de mutum.
  • Segundo uma lenda mais comum no Acre, uma cobra-grande se transforma numa bela morena nas noites de luar do mês de junho, para seduzir os homens durante os arraiais de festas juninas, como se fosse a versão feminina do boto.
  • O folclorista Walcyr Monteiro conta que em Barcarena (PA) existe o lugar conhecido como "Buraco da Cobra-Grande", atração turística do local.
  • Misabel Pedrosa diz que a Cobra-grande mora debaixo do cemitério do Pacoval, na ilha de Marajó.

Há várias versões dessa história, segue algumas que encontrei:

 

Cobra-Norato

Conta-se que uma índia engravidou da Boiúna e teve duas crianças: uma menina que se chamou de Maria e um menino chamado de Honorato ou Norato. Para que ninguém soubesse da gravidez, a mãe tentou matar os recém-nascidos jogando-os no rio. Mas eles não morreram e nas águas foram se criando como cobras.
Desde a infância os dois irmãos já demonstravam a grande diferença de comportamento entre eles. Maria era má, fazia de tudo para prejudicar os pescadores e ribeirinhos. Afundava barcos e fazia com que seus tripulantes morressem afogados. Seu irmão, Honorato, era meigo e bondoso. Quando sabia que Maria ir atacar algum barco, tentava salvar a tripulação. Isso só fazia com que ela o odiasse mais ainda. Até que um dia os irmãos travaram uma briga decisiva onde Maria morreu, tendo antes cegado o irmão.
Assim, as águas da Amazônia e seus habitantes ficaram livres da maldade de Maria. E Honorato seguiu seu caminho solitário. Sem ter quem combater, Honorato entendeu que seu fado já havia sido cumprido até demais e resolveu pedir para ser transformado em humano novamente. Para isso, precisava que alguém tivesse a coragem de derramar "leite de peito" (leite de alguma parturiente) em sua enorme boca em uma noite de luar. Depois de jogar o leite a pessoa teria que provocar um sangramento na enorme cabeça de Honorato para que a transformação tivesse fim. Foram muitas as tentativas, mas ninguém conseguia ter tanta coragem. Até que um soldado de Cametá, município do interior do Pará, conseguiu reunir coragem para fazer a simpatia. Foi ele quem deu a Honorato a oportunidade de se ver livre para sempre daquela cruel maldição de viver sozinho como cobra. Em agradecimento, Honorato também virou soldado.

 

A cobra de Fawcett

O coronel britânico Percy Harrison Fawcett, explorador que realizou sete expedições na Amazônia de 1906 a 1925, relatou ter visto cobras gigantescas, ou seus indícios. Em um de seus diários, ele anotou, em 1907: "Estávamos calmamente seguindo a corrente preguiçosa, não longe da confluência do Rio Negro, quando quase sob o arco da igara apareceu uma cabeça triangular e vários pés de corpo ondulante. Era uma sucuri gigante. Corri para meu rifle enquanto a criatura fazia seu caminho rumo ao banco de areia e, quase sem esperar para mirar, disparei uma bala de ponta macia calibre .44 em sua espinha, dez pés (3 metros), abaixo da maldita cabeça."
O barco parou para que o coronel pudesse examinar o corpo. A despeito de ter sido mortalmente ferida, "convulsões subiam e desciam pelo corpo como golpes de vento em um lago de montanha." Embora não tivessem equipamentos para medições com ele, Fawcett estimou que a serpente tinha 19 metros de comprimento e 30 cm de diâmetro.
Nos pântanos de Madre de Diós, em Bení, Bolívia, Fawcett disse ter visto rastros de uma cobra que indicavam um comprimento de 24 metros. 




Referências
  • Luís da Câmara Cascudo. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo, Global, 2000
  • Nhamundá: Lendas amazônicas
  • Unmuseum: Colonel Percy Fawcett
  • Colonel Percy Harrison Fawcett
  • Cryptomundo: Snakes on Plains - Part Deux



Bom, por hoje encerrarei por aqui, no próximo tópico abordarei o tema: Mitologia Nórdica. Reunirei algumas das divertidas histórias da Mitologia Nórdica. Se alguém tiver sugestão para um tópico, pode sugerir. Vou pesquisar o que puder. 


                                                    Obrigada pela visita!  ♥

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